Um debate entre o laço romântico e o não-dualismo em Murasaki Shikibu a partir de O Conto de Genji
DOI:
https://doi.org/10.9771/rhufba.v12i1.70227Abstract
Este artigo almeja explicitar o fundamento em uma análise sobre as condições de gênero e na filosofia budista que possui a crítica ao casamento e à idealização do amor feita pela escritora japonesa Murasaki Shikibu, usando como base a sua Magnum opus "O Conto de Genji", escrita no início do século 11. A partir de uma vinculação traçada entre a idealização sofrida pelas personagens e o envolvimento amoroso, em grande parte matrimonial, destas com os homens, a crítica de Murasaki centra-se na consequência dessa conexão: o sofrimento das mulheres que protagonizam a obra. Relevando-se fatores como o ambiente enervante e competitivo do sistema matrimonial poligâmico e a ascensão do buddhismo Maaiana no Japão, é possível enxergar como "O Conto de Genji" utiliza a metafísica budista não só para contestar os perigos do dualismo presente na idealização do amor e, consequentemente, o casamento, mas também para apresentar a vida dedicada à iluminação espiritual como a fuga de todo o sofrimento mundano. Por mais específico e datado seja o contexto da obra trabalhada, o panorama traçado por Murasaki acerca das angústias vivenciadas pelas mulheres, que estão à mercê das convenções sociais e do desejo masculino, torna válida a sua abordagem de elementos e questões que atravessam o tempo.