Aproximação entre a reforma psiquiátrica e política de memória: investigando os acervos Museu Bisco do Rosário e Museu da Loucura
DOI:
https://doi.org/10.9771/rhufba.v12i1.70235Resumo
O Museu da Loucura de Barbacena (1996) e o Museu Bispo do Rosário (1989) se apresentam como museus construídos onde anteriormente eram hospitais psiquiátricos, respectivamente o Hospital Colônia de Barbacena e o Hospital Colônia Juliano Moreira. Ambos os espaços podem ser considerados patrimônios marginais ou patrimônios difíceis na medida em que foram espaços de segregação e violação aos direitos humanos ao longo de sua história. A construção desses espaços de memória está inserida dentro do contexto da consolidação da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Ambos os museus apresentam, cada um a seu modo, narrativas que se relacionam direta ou indiretamente com as concepções de saúde e psiquiatria, que por sua vez, estão na essência do movimento da Reforma Psiquiátrica. São locais com peças que remontam uma nova perspectiva acerca dos considerados “loucos” na sociedade pós-ditadura militar e consequentemente trazem em suas práticas museais a possibilidade de análise discursiva dos impactos das transformações acarretadas pela Reforma Psiquiátrica no Brasil. O artigo tem como objetivo central identificar nas narrativas que constituem suas exposições e as escolhas de seus acervos, aproximações e afastamentos com as perspectivas da Reforma Psiquiátrica, compreendendo que a própria Reforma no Brasil é composta de ampla gama de posicionamentos e atores sociais por vezes discordantes entre si. Se faz necessário também, analisar esses espaços de museus como locais que possibilitam a amplificação dos debates atuais a respeito da saúde mental no contexto brasileiro. Enquanto patrimônios marginais, ou patrimônios difíceis, cabe questionarmos que narrativas são construídas nesses locais que possibilitam tratar da memória da Reforma Psiquiátrica para que, no presente, políticas de saúde mental sejam exercidas sem antigos estigmas e preconceitos.