CONTROLE REPRODUTIVO E POPULACIONAL NO OFERECIMENTO DE CONTRACEPTIVOS DE LONGA DURAÇÃO PELO SUS: UMA ANÁLISE À LUZ DA NOÇÃO DE JUSTIÇA REPRODUTIVA

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.9771/rf.12.1.59792

Palabras clave:

Justiça Reprodutiva, Coerção contraceptiva, Planejamento reprodutivo, Métodos contraceptivos de longa duração, Métodos LARC

Resumen

O objetivo deste artigo é explorar a crítica feita por movimentos de mulheres e da área da saúde a políticas públicas focadas no oferecimento de métodos contraceptivos de longa duração (LARCs) a grupos determinados de mulheres em situação de vulnerabilidade. Para isso, o artigo parte da análise da Portaria nº 13/2021 do Ministério da Saúde, a qual elegeu grupos de mulheres em situação de vulnerabilidade como público-alvo para o implante subdérmico de etonogestrel, passando por seu processo de elaboração, pelas críticas a ela realizadas, avaliando a política de distribuição de LARCs feita pela norma a partir de referenciais teóricos de governança reprodutiva, coerção contraceptiva, direitos reprodutivos e justiça reprodutiva. Defende-se que a noção de justiça reprodutiva, mais ampla do que aquela de simples direitos reprodutivos, deve ser empregada na discussão de tais políticas, pois permite enxergar claramente como mesmo a inclusão de mais uma opção dentre os métodos contraceptivos ofertados a mulheres que são parte de grupos já socialmente vulnerabilizados pode resultar em discriminação e ameaça a direitos fundamentais dessas pessoas.

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Biografía del autor/a

Beatriz Carvalho Nogueira, Escola de Direito de São Paulo - FGV

Doutoranda vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV Direito SP), com Bolsa CAPES-PROSUP e Bolsa Institucional Mario Henrique Simonsen de Ensino e Pesquisa. Mestra e Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto – USP. Docente no ensino superior em Direito. Advogada. Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.

Flavia Portella Püschel , Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Doutora em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Professora associada e coordenadora do Núcleo Gênero e Direito da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Suas áreas de interesse são teoria do direito, teorias feministas do direito, direito e democracia, teoria da responsabilidade e responsabilidade civil. Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.

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Publicado

2024-11-28

Cómo citar

CARVALHO NOGUEIRA, B.; PORTELLA PÜSCHEL , F. . CONTROLE REPRODUTIVO E POPULACIONAL NO OFERECIMENTO DE CONTRACEPTIVOS DE LONGA DURAÇÃO PELO SUS: UMA ANÁLISE À LUZ DA NOÇÃO DE JUSTIÇA REPRODUTIVA. Revista Feminismos, [S. l.], v. 12, n. 1, 2024. DOI: 10.9771/rf.12.1.59792. Disponível em: https://revbaianaenferm.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/59792. Acesso em: 28 nov. 2025.

Número

Sección

Dossiê JUSTIÇA REPRODUTIVA: MATERNIDADES E VIOLÊNCIAS