CONTROLE REPRODUTIVO E POPULACIONAL NO OFERECIMENTO DE CONTRACEPTIVOS DE LONGA DURAÇÃO PELO SUS: UMA ANÁLISE À LUZ DA NOÇÃO DE JUSTIÇA REPRODUTIVA
DOI:
https://doi.org/10.9771/rf.12.1.59792Palabras clave:
Justiça Reprodutiva, Coerção contraceptiva, Planejamento reprodutivo, Métodos contraceptivos de longa duração, Métodos LARCResumen
O objetivo deste artigo é explorar a crítica feita por movimentos de mulheres e da área da saúde a políticas públicas focadas no oferecimento de métodos contraceptivos de longa duração (LARCs) a grupos determinados de mulheres em situação de vulnerabilidade. Para isso, o artigo parte da análise da Portaria nº 13/2021 do Ministério da Saúde, a qual elegeu grupos de mulheres em situação de vulnerabilidade como público-alvo para o implante subdérmico de etonogestrel, passando por seu processo de elaboração, pelas críticas a ela realizadas, avaliando a política de distribuição de LARCs feita pela norma a partir de referenciais teóricos de governança reprodutiva, coerção contraceptiva, direitos reprodutivos e justiça reprodutiva. Defende-se que a noção de justiça reprodutiva, mais ampla do que aquela de simples direitos reprodutivos, deve ser empregada na discussão de tais políticas, pois permite enxergar claramente como mesmo a inclusão de mais uma opção dentre os métodos contraceptivos ofertados a mulheres que são parte de grupos já socialmente vulnerabilizados pode resultar em discriminação e ameaça a direitos fundamentais dessas pessoas.
Descargas
Citas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA. Nota da ABRASCO sobre a Portaria SCTIE/MS nº 13, de 19 de abril de 2021. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2021. Disponível em: https://abrasco.org.br/wp-content/uploads/2021/04/Nota-da-ABRASCO-sobre-a-Portaria-SCTIE_MS-no-13-de-19-de-abril-de-2021-.pdf. Acesso em: 29 jan. 2024.
BARTLETT, Katharine T. Feminist Legal Methods. Harvard Law Review, v. 103, n. 4, 1990, p. 829-888.
BRANDÃO, Elaine Reis; ALZUGUIR, Fernanda de Carvalho Vechi. Gênero e Saúde: uma articulação necessária. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2022.
BRANDÃO, Elaine Reis; CABRAL, Cristiane da Silva. Vidas precárias: tecnologias de governo e modos de gestão da fecundidade de mulheres “vulneráveis”. Horizontes Antropológicos [online] v. 27, n. 61, p. 47–84, set. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/SHfFRFSTrzFz3mwhkvrKqbT/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 dez. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Saúde incorpora no SUS implante para prevenção da gravidez por mulheres entre 18 e 49 anos. 27 abr. 2021a. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/assuntos/noticias/2021/abril/ministerio-da-saude-incorpora-no-sus-implante-para-prevencao-da-gravidez-por-mulheres-entre-18-e-49-anos. Acesso em: 27 dez. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde - CONITEC: conheça a Conitec. 26 mai. 2022, atualizado em 30 dez. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/assuntos/a-comissao/conheca-a-conitec. Acesso em: 09 jan. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. CONITEC: Consultas Públicas. 25 dez. 2017, atualizado em 02 ago. 2022. Disponível em: http://antigo-conitec.saude.gov.br/consultas-publicas#cp. Acesso em: 27 dez. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. CONITEC: Consultas Públicas encerradas. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/assuntos/participacao-social/consultas-publicas/encerradas. Acesso em: 09 jan. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de recomendação: Implante subdérmico de etonogestrel na prevenção da gravidez não planejada por mulheres adultas em idade reprodutiva entre 18 e 49 anos. Jan. 2021b. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2021/20210111_relatorio_etonogestrel_prevencao_gravidez_cp_01.pdf. Acesso em: 10 jan. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de recomendação: Implante subdérmico de etonogestrel na prevenção da gravidez não planejada por mulheres adultas em idade reprodutiva entre 18 e 49 anos. Abr. 2021c. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/2021/20210511_relatorio_599_implanon_prevencao_gravidez.pdf. Acesso em: 11 jan. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de recomendação: Implante subdérmico liberador de etonogestrel 68 mg para anticoncepção em mulheres de 15 a 19 anos de idade. Abr. 2016. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/2016/relatorio_implanteetonogestrel_anticoncepo_final.pdf. Acesso em: 29 fev. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório para Sociedade: informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS – Implante subdérmico de etonogestrel na prevenção da gravidez não planejada por mulheres adultas em idade reprodutiva entre 18 e 49 anos. Jan. 2021d. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2021/Sociedade/relsoc232_etonogestrel_-prevencaogravidez.pdf. Acesso em: 10 jan. 2024.
BRASIL. Relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito criada
através do Requerimento nº 796/91-CN, destinada a examinar a “incidência de
esterilização em massa de mulheres no Brasil”. Presidente: Deputada Benedita da Silva, Relator Senador Carlos Patrocínio. Brasília: 1993.
CAIRO, Conferência Internacional Sobre População e Desenvolvimento. Relatório da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento - Plataforma de Cairo. Cairo. 1994.
CONTROLE SOCIAL DO COMITÊ ESTADUAL DE ESTUDOS SOBRE MORTALIDADE MATERNA DE PERNAMBUCO. Nota do Controle Social acerca da Portaria SCTIE/MS Nº de Nº 13, 19 de abril de 2021. 25 abr. 2021. Disponível em: https://www.instagram.com/p/COF4LcfL45A/?utm_medium=copy_link&img_index=2. Acesso em: 30 jan. 2024.
COOK, Rebecca. J.; DICKENS, Bernard. M.; FATHALLA, Mahmoud F. Saúde reprodutiva e direitos humanos: integrando medicina, ética e direito. Tradução de Renata Perrone e equipe Andrea Romani. Rio de Janeiro: CEPIA, 2004.
CORRÊA, Sonia; ALVES, José Eustáquio Diniz; JANNUZZI, Paulo de Martino. Direitos e saúde sexual e reprodutiva: marco teórico-conceitual e sistema de indicadores. Indicadores municipais de saúde sexual e reprodutiva, Rio de Janeiro, p. 25-62, 2006.
CORRÊA, Sonia; ÁVILA, Maria Betânia. Direitos sexuais e reprodutivos: pauta global e percursos brasileiros. In: BERQUÓ, Elza (org.). Sexo & Vida: panorama da saúde reprodutiva no Brasil. Campinas: UNICAMP, p. 17-78, 2003.
CORRÊA, Sonia; PETCHESKY, Rosalind. Direitos sexuais e reprodutivos: uma perspectiva feminista. Physis: Ver. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro 6: p. 147-177, 1996.
CORRÊA, Sonia. "Saúde reprodutiva", Gênero e Sexualidade: legitimação e novas interrogações. In: GIFFIN, K.; COSTA, S. H. (org.). Questões da Saúde Reprodutiva. Rio de Janeiro: Fiocruz, p. 39-49, 1999.
CRUZ, Maria Teresa. Como um promotor e um juiz do interior de SP esterilizaram uma mulher à força. El país, 14 jun. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/12/politica/1528827824_974196.html. Acesso em: 09 fev. 2024.
CUNHA, Claudia Carneiro da; MOREIRA, Martha Cristina Nunes. Dimensões biopolíticas da Portaria nº 13/2021 do Ministério da Saúde: impactos nos direitos e no enfrentamento de estigmas de determinados grupos de mulheres. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 37, n. 7. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00124621. Acesso em: 30 jan. 2024.
EM NOTA, organizações exigem que governo revogue portaria que institui implante para prevenção de gravidez indesejada de mulheres que vivem com HIV/AIDS e outras situações de vulnerabilidade. 28 abr. 2021. Disponível em: https://abiaids.org.br/em-nota-organizacoes-exigem-que-ministerio-da-saude-revogue-portaria-que-institui-implante-para-prevencao-de-gravidez-indesejada-de-mulheres-que-vivem-com-hiv-aids-e-outras-situacoes-de-vulnerabilida/34780. Acesso em: 29 jan. 2024.
MATHIAS, Lucas; MANSUR, Giovana. VÍDEO: Prefeito de Barra do Piraí, Mário Esteves diz que a cidade tem muita criança e que é preciso 'começar a castrar' as mulheres. Portal G1, 16 set. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2023/09/16/prefeito-de-barra-do-pirai-mario-esteves-diz-que-a-cidade-tem-muita-crianca-e-que-e-preciso-comecar-a-castrar-as-mulheres.ghtml. Acesso em: 05 jan. 2024.
MORGAN, Lynn M.; ROBERTS, Elizabeth F.S. Reproductive governance in Latin
America. Anthropology & Medicine, 19:2, 241-254 [online]. Disponível em: https://sites.lsa.umich.edu/elizabethroberts/wp-content/uploads/sites/89/2014/05/reproductive_governance.pdf. Acesso em: 30 jan. 2024.
ROSS, Loretta J. Reproductive Justice as Intersectional Feminist Activism. Souls, vol. 19, n. 3, p. 286-314. July – September, 2017. [online] Disponível em: https://doi.org/10.1080/10999949.2017.1389634. Acesso em: 20 fev. 2023.
ROSS, Loretta J. What is reproductive justice? In: Reproductive justice briefing book: a primer on reproductive justice and social change. 2007. p. 3-4. [online] Disponível em: https://www.law.berkeley.edu/php-programs/courses/fileDL.php?fID=4051. Acesso em 20 fev. 2023.
SCHERING-PLOUGH. Parecer técnico-científico: Implanon NXT® (etonogestrel) – implante anticoncepcional subdérmico na prevenção da gravidez não planejada por mulheres adultas em idade reprodutiva entre 18 e 49 anos. 24 abr. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/dossie/2021/20210111_dossie_implanon_msd_cp01.pdf. Acesso em: 09 jan. 2024.
SENDEROWICZ, Leigh. "I was obligated to accept": A qualitative exploration of contraceptive coercion. Social science & medicine, 239, 2019. [online]. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31513932/. Acesso em: 30 jan. 2024.
SISTERSONG; NATIONAL WOMEN’S HEALTH NETWORK. Long-Acting Reversible Contraception Statement of Principles. 2017 [online]. Disponível em: https://nwhn.org/wp-content/uploads/2021/04/LARC-Statement-of-Principles.pdf. Acesso em: 08 fev. 2024.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Autoras/es que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1. Autoras/es mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
2. Autoras/es têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autoras/es têm permissão e são estimuladas/os a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.