EXISTÊNCIAS SILENCIADAS E VIOLÊNCIAS GRITADAS: POR UMA ABORDAGEM INTERSECCIONAL E DECOLONIAL DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES INDÍGENAS

Authors

  • Luciana de Freitas UNESP

DOI:

https://doi.org/10.9771/rf.13.1%20e%202.63259

Keywords:

Maria da Penha Law; gender-based violence; indigenous feminism; decolonial feminism; intersectionality.

Abstract

O artigo examina as limitações da aplicação da Lei Maria da Penha em comunidades indígenas, destacando a necessidade de uma abordagem interseccional, intercultural e decolonial das políticas voltadas ao enfrentamento da violência de gênero. A pesquisa utiliza uma metodologia qualitativa e bibliográfica a partir de autoras que abordam o feminismo indígena e comunitário, assim como o feminismo decolonial, desafiando as estruturas de poder mantidas pelas abordagens dominantes de pensar, interpretar e praticar o Direito. Foram utilizados, além da interseccionalidade, os conceitos de “amefricanas” e “ameríndias", de Lélia Gonzalez, “saberes parciais e localizados”, de Donna Haraway, e “interculturalidade”, de Catherine Walsh. O estudo revela como a aplicação de um feminismo essencialista, sem considerar as parcialidades culturais e sociais das mulheres indígenas, perpetua a exclusão e a vulnerabilidade dessas comunidades.

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Author Biography

Luciana de Freitas, UNESP

Mestra e Doutoranda em Direito pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Pós graduada em Processo Penal pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) em parceria com o Instituto de Direito Penal Económico e Europeu (IDPEE), da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Pós graduada em Ciências Criminais pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FDRP-USP). Tem interesse e experiência em Criminologia, Antropologia Jurídica, Metodologia da Pesquisa Científica, Direito Penal e Direito Processual Penal, além de estudos interseccionais entre Gênero e Sistema de Justiça Criminal.

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Published

2025-08-13

How to Cite

DE FREITAS, L. EXISTÊNCIAS SILENCIADAS E VIOLÊNCIAS GRITADAS: POR UMA ABORDAGEM INTERSECCIONAL E DECOLONIAL DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES INDÍGENAS. Revista Feminismos, [S. l.], v. 13, 2025. DOI: 10.9771/rf.13.1 e 2.63259. Disponível em: https://revbaianaenferm.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/63259. Acesso em: 28 nov. 2025.

Issue

Section

DOSSIÊ; Gênero e feminismos em comunidades tradicionais e racializadas