“Fim de semana” e “Loteamento clandestino”

aproximações ao universo da habitação popular em São Paulo (1970–1990)

Resumo

Este texto parte da análise de dois filmes da arquiteta e urbanista Ermínia Maricato, Fim de Semana (1975) e Loteamento clandestino (1979), e tenta refletir sobre algumas relações que se estabeleceram em São Paulo, a maior metrópole sul-americana, com a obra de John Turner (a partir de Vivienda. Todo el poder para los usuarios, publicado em 1977). Ele busca vislumbrar as coincidências e discrepâncias entre diferentes atores que se dedicaram a pensar a habitação social na América Latina através da defesa da participação popular no seu desenvolvimento. Seguindo o caminho aberto por outros pesquisadores da Universidade de São Paulo, Maricato desenvolve uma abordagem sociológica e depois etnográfica das periferias de São Paulo, registrando o modo de construção de moradias da população de baixa renda e revelando a impossibilidade de acesso desses sujeitos ao mercado imobiliário formal. No final da década de 1980, na primeira gestão municipal do período da redemocratização, Maricato era Secretária de Habitação, e nesta a ajuda mútua tornou-se política de Estado. Surgiu um paradoxo: apoiar a autoconstrução estaria adicionando água ao moinho da precariedade ou estaria defendendo ideias libertárias contra a opressão do Estado autoritário? Pretende-se aqui discutir essas questões, relacionando a produção intelectual brasileira a um movimento mais geral, com a intenção de contribuir para o debate.