Os vícios de pronunciação

prescrições à família senhorial sobre os perigos de africanização da língua portuguesa (1856-1858)

Autores/as

Palabras clave:

Língua Portuguesa, Discurso, Brasil imperial, Escravidão

Resumen

A ameaça de africanização da língua portuguesa era fonte de constante preocupação para a elite senhorial letrada no decorrer do século XIX. Entre os anos de 1856-58, no jornal Monitor Campista, norte da província do Rio de Janeiro, um autor anônimo escreveu sobre dez tópicos dos vícios de pronunciação que colocavam em risco a integridade da língua Portuguesa. Baseados numa abordagem historiográfica que concebe o negro escravizado como agente social, nos estudos da história sociopolítica da língua portuguesa e na Análise dialógica do discurso, o nosso objetivo nesse artigo é problematizar os discursos da elite senhorial letrada sobre o português falado pelos negros escravizados. De uma perspectiva decolonial, em função da análise realizada, consideramos a colonialidade da linguagem como fator central na repressão às mudanças que os negros escravizados faziam da língua oficial.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Citas

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O fardo dos bacharéis. Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, n 19, 1987.

ANÔNIMO (NATURAL DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES), Memória sobre o comércio de escravos, em que se pretende mostrar que este tráfico é para eles antes um bem do que um mal. Rio de Janeiro: Typ. Imp. E Const. De J. Villeneuv e Comp., 1838.

BAGNO, Marcos. O impacto das línguas bantas na formação do português brasileiro. Cadernos de Literatura em Tradução, São Paulo, n. 16, p. 19-32, 2016.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo Martins Fontes, 1997.

BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. São Paulo: Editora Hucitec, 2002.

BAKHTIN, Mikhail. [Volochinov]. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1999.

CARNEIRO, Manuel Borges. Mentor da juventude ou Cartas sobre a educação. Lisboa: Imprensa Nacional, 1844.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Lisboa: Sá da Costa, 1978.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FARACO, Carlos Alberto. História sociopolítica da língua portuguesa. São Paulo: Parábola Editorial, 2016.

FARIA, Sheila Siqueira de Castro. Terra e trabalho em Campos dos Goytacazes (1850-1920). 1986. Dissertação (Mestrado em História). Instituto de História, Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 92/93, p. 69-82, jan./jun. 1988.

INDURSKY, F. A fala dos quartéis e outras vozes. Campinas: Editora da Unicamp, 1997.

LEMOS, C. E. S. Vivendo em tempos de tirania: a vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, tão perto do Rio de Janeiro, tão longe do Espírito Santo (1808-1832). Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2018.

LUCCHESI, Dante; BAXTER Alan; RIBEIRO Ilza (Org.). O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009.

MALDONADO-TORRES, N. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In: Bernardino-Costa, J.; Maldonado-Torres, N.; Grosfoguel, R. (orgs.) Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. BH: Editora Autêntica, 2020.

PALERMO, L. C. Disputas no campo da historiografia brasileira: perspectivas clássicas e debates atuais. Dimensões, Vitória, v. 39, jul.-dez. 2017, p. 324-347.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In. LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 227-278.

RODRIGUES, Jaime. De costa a costa: Escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860). SP: Cia das Letras, 2022.

SÁ, G. J. S; SANTOS, R. V.; CARVALHO, C. ; SILVA, E.C. Crânios, corpos e medidas: a constituição do acervo de instrumentos antropométricos do Museu Nacional na passagem do século XIX para o XX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro v.15, n.1, p.197-208, jan.-mar. 2008

SECRETO, M.V. Novas perspectivas na história da escravidão. Tempo, Niterói, v. 22 n. 41. p.442-450, set-dez.,2016

SIMÕES, D.S. O quimbundo nas Américas: tecendo um fio diaspórico da presença das línguas africanas no Brasil. 2019. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Petro/MG, 2019.

SOARES, Márcio. Presença africana e arranjos matrimoniais entre os escravos em Campos dos Goitacazes (1790-1831). História: Questões & Debates, Curitiba, n. 52, p. 75-90, jan./jun. 2010. Editora UFPR.

VERONELLI, Gabriella. Sobre a colonialidade da linguagem. Revista X, Curitiba, v. 16, n. 1, p. 80-100, 2021.

Publicado

2025-09-03

Cómo citar

DE LEMOS, C. Os vícios de pronunciação: prescrições à família senhorial sobre os perigos de africanização da língua portuguesa (1856-1858). Estudos Linguísticos e Literários, Salvador, n. 79, p. 28–53, 2025. Disponível em: https://revbaianaenferm.ufba.br/index.php/estudos/article/view/57480. Acesso em: 29 sep. 2025.