Os vícios de pronunciação
prescrições à família senhorial sobre os perigos de africanização da língua portuguesa (1856-1858)
Mots-clés :
Língua Portuguesa, Discurso, Brasil imperial, EscravidãoRésumé
A ameaça de africanização da língua portuguesa era fonte de constante preocupação para a elite senhorial letrada no decorrer do século XIX. Entre os anos de 1856-58, no jornal Monitor Campista, norte da província do Rio de Janeiro, um autor anônimo escreveu sobre dez tópicos dos vícios de pronunciação que colocavam em risco a integridade da língua Portuguesa. Baseados numa abordagem historiográfica que concebe o negro escravizado como agente social, nos estudos da história sociopolítica da língua portuguesa e na Análise dialógica do discurso, o nosso objetivo nesse artigo é problematizar os discursos da elite senhorial letrada sobre o português falado pelos negros escravizados. De uma perspectiva decolonial, em função da análise realizada, consideramos a colonialidade da linguagem como fator central na repressão às mudanças que os negros escravizados faziam da língua oficial.
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