O empresariado como "sujeito oculto" da Base Nacional Comum Curricular: uma análise histórico-crítica da política educacional curricular brasileira
DOI:
https://doi.org/10.9771/gmed.v16i3.60359Palavras-chave:
Reformas empresariais, Políticas educacionais, Privatização, Pedagogia histórico-críticaResumo
Este texto tem como objetivo principal analisar o papel do empresariado no processo de elaboração e aprovação da BNCC. Discute a historicidade da proposta do currículo comum na educação brasileira e examina o processo de formulação da BNCC, destacando as arbitrariedades políticas e institucionais praticadas pelo governo Temer. O estudo observa, ainda, os interesses do empresariado na política curricular, desvelando como esse segmento da sociedade agiu para produzir consenso relativo à proposta agora vigente. A fim de se aproximar do objeto em suas características estruturais e apreender a sua complexidade, o artigo toma como referência a pedagogia histórico-crítica, teoria a partir da qual explora uma soma de documentos oficiais. Conclui que as forças políticas e econômicas que articularam a BNCC vislumbram a privatização do setor educacional, bem como a instituição de um currículo comprometido com a formação de mão de obra simples, indiferenciada e submetida às iniquidades do sistema.
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