Dossiê: SABERES indígenas e artes da cena

2025-09-20

Este dossiê da Revista Repertório tem parceria com a Universidade Intercultural Indígena de Michoacán (México), com a Universidade de Ixtlahuaca (México) e tem como objetivo fortalecer e ampliar o debate entre as artes, as artes do corpo, as experiências cênicas e os povos originários, suas culturas, manifestações e lutas atuais por sobrevivência, demarcações de terras e reconhecimento de direitos.

Trata-se de reunir trabalhos que reflitam sobre a presença indígena, suas cosmopercepções e vivências cosmo-políticas na produção do pensar-fazer em arte, em diversos contextos e possibilidades, inclusive os escolares. Assim, convidamos artistas indígenas e também não indígenas que estejam enfrentando na arte, na universidade e na escola, os projetos hegemônicos com a força renovada de nossas convicções ancestrais (Cusicanqui, 2021).

É importante ressaltar que artistas, pesquisadoras (es) indígenas não precisam possuir títulos de doutorado, mestrado ou graduação para submeter seus trabalhos a este dossiê. Valorizamos a diversidade de saberes e experiências, reconhecendo a importância das contribuições de todos os povos indígenas, independentemente de sua formação acadêmica.

As perguntas provocadoras deste dossiê, são inspiradas no artigo Amansar o Giz da professora, ativista e deputada federal Célia Xakriabá (2023).

Como os povos indígenas, as artes, as artes do corpo e as artes da cena vêm nos ensinando a descalçar os sapatos usados para percorrer caminhos e acessar conhecimentos produzidos no centro? Como estamos produzindo deslocamentos e ampliando o acesso aos conhecimentos no território do corpo, colocando assim, mente e corpo em ação? Se não existe caminho aberto, como estamos fazendo uma picada, um carreiro e uma estrada, (re)construindo o ensino-aprendizagem nas artes dos e com os povos indígenas?

Para a socióloga e historiadora Aymara Silvia Rivera Cusicanqui (2024), a possibilidade de uma reforma cultural profunda em nossa sociedade depende da descolonização de nossos gestos, de nossos atos e da língua com a qual nomeamos o mundo. Para tanto, sinaliza a ativista e pesquisadora boliviana, é preciso diminuir a distância entre o que falamos e o que fazemos, de pensar a política do corpo como política de sobrevivência, de recuperar os saberes escondidos, colocar em prática o processo de reaprendizagem dos saberes, desprivatizar os saberes e comunalizar nossas ações.

Nesse dossiê, portanto, buscamos voltar os olhares para o reconhecimento e a participação indígena no fazer epistemológico das artes, como contribuição “para o processo de descolonização de mentes e corpos” (Xakriabá, 2023, p. 323). Almejamos registrar e efetivar as práticas para além dos discursos, desconstruir os pensamentos equivocados sobre os saberes e presenças indígenas, nas aldeias e fora delas, como vem nos ensinando a citada pesquisadora e doutora em Antropologia Célia Xakriabá (2023).

Aguardamos o envio dos trabalhos até o dia 30 de novembro de 2025, para saber mais detalhes sobre as regras de submissão acesse o site da revista: https://periodicos.ufba.br/index.php/revteatro. Qualquer dúvida nós, coordenadoras e coordenadores do dossiê, estamos à disposição.

 

 

Referências Bibliográficas

CUSICANQUI, Silvia Rivera. Um mundo chi´ixi é possível: ensaios de um presente em crise. São Paulo: Elefante, 2024.

 

CUSICANQUI, Silvia Rivera. Ch´ixinakax utxiwa: uma discussão sobre práticas e discursos descolonizadores. São Paulo: n-1 edições, 2021.

 

XAKRIABÁ, Célia. Amansar o Giz. In: Terra: antologia afro-indígena. São Paulo: Ubu Editora, 2023.