Representações sociais e perfis de gênero nas nomeações de genitais no dicionário InFormal
Resumo
Sexo e sexualidade são socialmente organizados por representações sociais, sustentadas por linguagens que delimitam o que pode e deve ser expresso. As forças invisíveis do tabu moldam essa dinâmica, censurando a linguagem e incentivando a criação de novas denominações. Este estudo investigou como as pessoas categorizam gênero a partir das representações sociais associadas às categorias de masculino e feminino, focalizando as nomeações genitais. Com base na Teoria das Representações Sociais, foram analisados os sinônimos das lexias “pênis”, “vagina: e “vulva” presentes no Dicionário InFormal. Os resultados mostram que, embora as sinonímias de pênis e vagina/vulva apresentem uma valoração equilibrada no que diz respeito à polarização valorativa, a dicionarização evidencia um processo de subalternização. Observou-se que os diminutivos, frequentemente associados à genitália feminina, estão associados a algo amável ou de pouca importância, enquanto os sinônimos para órgão genital masculino apresentam maior frequência e representatividade nos registros dicionarizados, com menor uso de diminutivos, reforçando sua relevância na hierarquização. Esses resultados destacam a importância de repensar práticas linguísticas para promover maior equidade nas representações sociais de gênero.
Downloads
Referências
ALLAN, K.; BURRIDGE, K. Forbidden words: taboo and the censoring of language. New York: Cambridge University Press, 2006.
ARAÚJO, L. M. B. M.; LIMA, C. M. O dicionário informal: uma questão para a linguística popular. Revista da ABRALIN, v. 22, n. 2, p. 140–157, 2023. DOI: 10.25189/rabralin.v22i2.2068.A
BECHARA, E. Moderna gramática da língua portuguesa. 37 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BIDERMAN, M. T. C. Análise de dois dicionários gerais do Português Brasileiro contemporâneo: o Aurélio e o Houaiss. Filologia e Linguística Portuguesa, v. 5, n. 1, p. 85-116, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v0i5p85-116. Acesso em: 12.jul.2023
BIDERMAN, M. T. C. As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. Campo Grande: UFMS, 2001.
BRAGA, E. R. M.; RIBEIRO, P. R. M. “Palavras, ‘palavrões’: um estudo sobre a repressão sexual a partir da linguagem empregada para designar a genitália e práticas sexuais, na cultura brasileira”. In: Anais da 31ª Reunião Anual da ANPED. Caxambu, MG: ANPED, 2008. Disponível em: https://www.anped.org.br/biblioteca/item/palavras-palavroes-um-estudo-sobre-repressao-sexual-partir-da-linguagem-empregada. Acesso em: 12.jul.2023
CARDOSO, P. R. S. Violência contra mulher: por que ainda lutamos? Revista Coisas do Gênero, v. 6, n. 2, p. 50-66, 2020. Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/index.php/genero/article/view/4193. Acesso em: 12.jul.2023
CARDOSO, P. R. S.; FREITAG, R. M. K. A ordem importa: escolhas linguísticas na representação da violência contra mulheres no Brasil. Domínios de Lingu@gem, v. 17, p. e1741, 2023. DOI: 10.14393/DLv17a2023-41.
CARVALHO, N. M. A criação neológica. Revista Trama, v. 2, n. 4, p. 191-203, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.48075/rt.v2i4.681. Acesso em: 12.jul.2023
CONTIERO, E. Uma análise enunciativa da palavra “povo” e de seus associados morfológicos e sintáticos no dicionário informal. Revista Línguas e Instrumentos Linguísticos, n. 36, p. 65-87, 2015. Disponível em: http://www.revistalinguas.com/edicao36/edicao36.html. Acesso em: 12.jul.2023
CURTI-CONTESSOTO, B.; GALLI, F. C. S. Dicionário colaborativo online: efeitos de sentido sobre o significante casamento. Travessias, v. 12, n. 3, p. 31-44, 2018. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/20871. Acesso em: 12.jul.2023
Dicionário Informal. 2022. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/. Acesso em: 12.jul.2023
Editora Melhoramentos. 2022. Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/. Acesso em: 12.jul.2023
FREITAG, R. M. K. Não existe linguagem neutra! Gênero na sociedade e na gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2024.
FREUD, S. Totem e tabu. Rio de Janeiro: Imago, 1974.
GARBARINO, M. I. O tabu da educação sexual: gênese e perpetuação dos preconceitos na infância. Cadernos Pagu, n. 63, p. e216316, 2022. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8668815
GUÉRIOS, R. F. M. Tabus lingüísticos. São Paulo, SP: Nacional, 1955.
LIU, B. Sentiment Analysis and Opinion Mining. Morgan & Claypool Publishers, 2012.
MENEZES, K. V. Pistas da consciência sociolinguística no uso de palavrões em uma obra literária. Revista de Estudos da Linguagem, v. 31, n. 2, p. 861-904, 2023. DOI: 10.17851/2237-2083.31.2.1-904
MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Trad. Pedrinho A. Guareschi. 11 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.
OLIVEIRA, S. E. O dicionário informal e a relação do falante com a língua. Revista da Anpoll, v. 1, n. 37, p. 262-272, 2014.
ORSI, V. O léxico tabu: usos e aspectos socioculturais. EntreLetras, v. 4, n. 2, p. 200-216, 2013.
PINHEIRO, B. F. M. Pistas linguísticas e paralinguísticas para os sentidos diminutivos. 2021. 97 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2021. Disponível em: https://ri.ufs.br/handle/riufs/15218. Acesso em: 12.jul.2023.
PINHEIRO, B. F. M.; MENEZES, L. C. F.; FREITAG, R. M. K. Palavras-tabu e efeitos de gênero na leitura. In: LIMA, M. E. O; FRANÇA, D. X.; FREITAG, R. M. K. (Orgs.). Processos psicossociais de e.xclusão social. São Paulo: Blucher, 2020. p. 247-262. DOI: 10.5151/9786555060393-12.
PINHEIRO, Bruno Felipe Marques; FREITAG, Raquel Meister Ko. Estereótipos na concordância de gênero em profissões: efeitos de frequência e saliência. Linguística, v. 16, n. 1, p. 85-107, 2020. DOI: 10.31513/linguistica.2020.v16n1a31637
SANTANA, R. R. de. Interrupção/assalto ao turno, o papel do gênero e o efeito cultural. Cadernos de Pós-Graduação em Letras, v. 18, n. 2, 2018. Disponível em: https://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cpgl/article/view/11088.
SARAT, M.; CAMPOS, M. I. Gênero, sexualidade e infância: (Con)formando meninas. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 7, n. 12, p. 45–56, 2014. DOI: 10.20952/revtee.v0i0.2951.
SILGE, J.; ROBINSON, D. tidytext: Text mining and analysis using tidy data principles in R. Journal of Open Source Software, v. 1, n. 3, p. 37, 2016. DOI: 10.21105/joss.00037.
SILVA, A. S. Palavras, significados e conceitos: o significado lexical na mente, na cultura e na sociedade. Cadernos de Letras da UFF, v. 4, n. 1, p. 27-53, 2010.
ULLMANN, S. Semántica: introducción a la ciencia del significado. Madrid: Aguilar, 1965.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Cadernos de Gênero e Diversidade

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2023 O autor detém os direitos autorais do texto e pode republicá-lo desde que a Cadernos de Gênero e Diversidade seja devidamente mencionada e citada como local original de publicação.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
Para conhecer mais sobre essa licença: <https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/>.
A submissão de trabalho(s) científico(s) original(is) pelos autores, na qualidade de titulares do direito de autor do(s) texto(s) enviado(s) ao periódico, nos termos da Lei 9.610/98, implica na cessão de direitos autorais de publicação impressa e/ou digital à Cadernos de Gênero e Diversidade (CGD), do(s) artigo(s) aprovado(s) para fins da publicação, em um único número da Revista, autorizando-se, ainda, que o(s) trabalho(s) científico(s) aprovado(s) seja(m) divulgado(s) gratuitamente, sem qualquer tipo de ressarcimento a título de direitos autorais, por meio do site da Revista, para fins de leitura, impressão e/ou download do arquivo do texto, a partir da data de aceitação para fins de publicação. Portanto, os autores ao procederem a submissão do(s) artigo(s) à Revista, e, por conseguinte, a cessão gratuita dos direitos autorais relacionados ao trabalho científico enviado, têm plena ciência de que não serão remunerados pela publicação do(s) artigo(s) no periódico.
A Revista encontra-se licenciada sob uma Licença Creative Commons 4.0 Internacional, para fins de difusão do conhecimento científico, conforme indicado no sítio da publicação.
Os autores declaram expressamente concordar com os termos da presente Declaração de Direito Autoral, que se aplicará a submissão caso seja publicada por esta Revista.