Invisibilização das transmasculinidades na saúde

Considerações a partir do perfil sociodemográfico de homens trans e pessoas transmasculinas vinculados a um serviço especializado no sul do Brasi

Autores/as

Palabras clave:

Acesso aos serviços de saúde, Atenção básica, Pessoas transgênero, Serviços de saúde para pessoas transgênero

Resumen

O Brasil, que lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans, possui lacunas críticas nos dados sobre homens trans e pessoas transmasculinas. Esse artigo se soma às iniciativas dos movimentos sociais para produção de dados sobre e com pessoas trans, compreendendo a urgência deles para a criação e qualificação de políticas públicas efetivas. Dessa forma, discutimos a invisibilidade das transmasculinidades na saúde a partir do perfil de homens trans e pessoas transmasculinas vinculadas ao Ambulatório Trans do município de Porto Alegre, RS/Brasil. Dentro dos dois anos de funcionamento do serviço, foram vinculados 418 usuários, sendo 384 homens trans e 34 transmasculinos. Destes, 328 (78,5%) são brancos, 244 (58,4%) têm entre 20 e 27 anos, 122 (29,2%) tem diploma de ensino médio e menos da metade (30,6%) trabalham formalmente. Homens trans brancos acessam serviços mais jovens e com maior nível educacional que negros, enquanto transmasculinos apresentam escolaridade superior.  Os dados aqui produzidos mostram aqueles que conseguem enfrentar diferentes barreiras para ingressar em um serviço construído para facilitar o acesso de pessoas trans, evidenciando o longo caminho a ser percorrido para acolhimento sensível às complexidades dessa população no SUS.

 

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Guilherme Lamperti Thomazi, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Tem mestrado e residência em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Trabalhador e defensor do SUS, pesquisa e atua com diferentes movimentos sociais pela ampliação do acesso de pessoas trans à saúde.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5696-6275
E-mail: glthomazi@usp.br

Gabriela Tizianel Aguilar , Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre

Médica de Família e Comunidade pela Secretaria de Saúde Municipal de Porto Alegre. Mestra em Saúde Coletiva pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Coordenou a Área Técnica da Saúde da População LGBTQI+ da Secretaria Municipal de Saúde e o Ambulatório Trans de 2020 a 2023. Formada em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4105-7612
E-mail: gabrielatizianel@gmail.com

Citas

ALAMINO, F. N. P.; VECCHIO, V. A. D. Os Princípios de Yogyakarta e a proteção de direitos fundamentais das minorias de orientação sexual e de identidade de gênero. Revista da Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, [s. l.], v. 113, p. 645–668, 2018.

ALMEIDA, G. “Homens trans”: novos matizes na aquarela das masculinidades? Revista Estudos Feministas, [s. l.], v. 20, p. 513–523, 2012.

ALMEIDA, G. S. D. Prefácio. In: Transmasculinidades negras: narrativas plurais em primeira pessoa. São Paulo, SP: Ciclo Contínuo Editorial, 2021. p. 9–20.

ÁVILA, Simone Nunes. FTM, transhomem, homem trans, trans, homem: a emergência de transmasculinidades no Brasil contemporâneo. 2014. 241p. Tese (Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.

BENEVIDES, B. G. (org.). Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2024. BRASILIA, DF: Distrito Drag, 2025.

BENTO, Berenice; PELÚCIO, Larissa. Despatologização do gênero: a politização das identidades abjetas. Revista Estudos Feministas, [S.L.], v. 20, n. 2, p. 569-581, ago. 2012.

BILGE, Sirma. Théorisations féministes de l'intersectionnalité. Diogène, v. 225, n. 1, p. 70-88, 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 1.707/GM de 18 de agosto de 2008. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o Processo Transexualizador, a ser implantado nas unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão.

BRASIL. Ação Direta de Inconstitucionalidade 4275. Relator: Min. Marco Aurélio Mello. Brasília: Supremo Tribunal Federal, 1 mar. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.803/GM de 19 de novembro de 2013. Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS).

BRASIL. Programa de Atenção Especializada à Saúde da População Trans (PAESPopTrans). [S. l.], 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/gestao-do-sus/articulacao-interfederativa/cit/pautas-de-reunioes-e-resumos/2024/janeiro/paespoptrans/view. Acesso em: 20 mai. 2025.

BORBA, Rodrigo. (Des)aprendendo a “ser”: trajetórias de socialização e performances narrativas no processo transexualizador. 2014. 206 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011

CARVALHO, M.; CARRARA, S. Em direito a um futuro trans?: contribuição para a história do movimento de travestis e transexuais no Brasil. Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro), [s. l.], p. 319–351, 2013.

COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. Boitempo Editorial, 2021.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento 73 de 28 de junho de 2018. Dispõe sobre a averbação da alteração do prenome e do gênero nos assentos de nascimento e casamento de pessoa transgênero no Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN).

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista estudos feministas, v. 10, p. 171-188, 2002.

FLORES, Andrew R. et al. How Many Adults Identify as Transgender in the United States? Los Angeles, CA: The Williams Institute, UCLA School of Law, 2016.

HALA, Théo. Gênese de mim. In: SANTANA, Bruno; PEÇANHA, Leonardo Morjan Britto; CONCEIÇÃO; Vércio Gonçalves. Transmasculinidades Negras: Narrativas plurais em primeira pessoa. São Paulo: Ciclo Contínuo Editorial, 2021. p. 39-60.

HALBERSTAM, J. Trans*: a quick and quirky account of gender variability. Oakland, California: University of California Press, 2018.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/porto-alegre/panorama. Acesso em: 16 abr. 2022.

LEMOS, D. K. Políticas Públicas de Gestação, Práticas e Experiências Discursivas de Gravidez Transmasculina. In: LUCENA, F. S. et al. (org.). Concepção, gravidez, parto e pós-parto: perspectivas feministas e interseccionais. São Paulo, SP: Instituto de Saúde, 2024. (Temas em saúde coletiva). p. 295–318.

LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CID-10, classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. São Paulo (SP): Edusp, 1994.

PEÇANHA, L. M. B. Breve história política das transmasculinidades brasileiras: atores políticos e demandas em saúde. In: PFEIL, B. L. et al. (org.). Masculinidades Outras. Uberlândia: O Sexo da Palavra, 2023. v. 1o, p. 148–172.

PEÇANHA, L. M. B. Ensaios sobre Transmasculinidades Negras: Desafios e inquietações. In: Transmasculinidades negras: narrativas plurais em primeira pessoa. São Paulo, SP: Ciclo Contínuo Editorial, 2021. p. 133–140.

PFEIL, Bruno; LEMOS, Kaio (org.). A dor e a delícia das transmasculinidades no Brasil: das invisibilidades às demandas. Rio de Janeiro: Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos, 2021.

PFEIL, C. L.; ALVES, R. N. Relatório das Mortes e Violências Contra as Transmasculinidades em 2023. Curitiba: Instituto Brasileiro de Transmasculinidades - IBRAT, 2024.

RODRIGUEZ, Ale Mujica. Cartografias de cuidados à saúde trans na Atenção Primária do município de Florianópolis, 2017 - 2018. 2019. 145p. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019.

THOMAZI, Guilherme Lamperti. Demandas em saúde de pessoas trans e barreiras de acesso: Experiência dos seis primeiros meses do Ambulatório T da Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre. 2020. 50p.

VIVEROS VIGOYA, M. As cores da masculinidade: experiências interseccionais e práticas de poder na Nossa América. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2018.

YOGYAKARTA PRINCIPLES PLUS 10. Yogyakarta Principles plus 10 – Yogyakartaprinciples.org. In: 2017. Disponível em: https://yogyakartaprinciples.org/principles-en/yp10/. Acesso em: 4 jul.

Publicado

2025-06-28

Cómo citar

Lamperti Thomazi, G., & Tizianel Aguilar , G. . (2025). Invisibilização das transmasculinidades na saúde: Considerações a partir do perfil sociodemográfico de homens trans e pessoas transmasculinas vinculados a um serviço especializado no sul do Brasi. Cadernos De Gênero E Diversidade, 11(2), 605–630. Recuperado a partir de https://revbaianaenferm.ufba.br/index.php/cadgendiv/article/view/55293

Número

Sección

Seção Temática