"O nome que eu sou"

Pessoa, gênero, relacionalidade e os sentidos da nominação de sujeitos trans

Autores

Palavras-chave:

Transgênero, Identidade de gênero, Prenome, Relacionalidade, Família

Resumo

Este artigo analisa relacionalidades envolvidas nos processos pelos quais sujeitos trans (homens trans, mulheres trans, travestis, transexuais) constroem identificação com um novo nome, alinhado à identidade de gênero, como parte da constituição da Pessoa na transição de gênero. Os dados resultam de pesquisa de campo etnográfica e entrevistas semiestruturadas realizadas em contextos de ativismo trans e em centros de defesa de direitos e promoção de políticas públicas para homossexuais, trans, travestis e transexuais, nas cidades de Natal, João Pessoa, Recife e São Paulo, entre 2017 e 2019. Observa-se que a escolha e a assunção de um novo nome ocorrem entre relações familiares e de amizade, em dinâmicas sempre relacionais e que envolvem conflitos e negociações com parentes e amigos, em práticas cotidianas de reconhecimento da identidade de gênero. A interpretação dos dados etnográficos sugere que a “transição” de nome é um processo que não marca somente o movimento de deslocamento na ordem de gênero. Identificar-se com “o nome que se é” envolve tanto o adensamento de vínculos sociais de família e/ou amizade que constituem Pessoas-Indivíduos quanto formas de ruptura, transformação ou atualização de relações para as quais o nome anterior era uma substância de relacionalidade importante.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Arthur Leonardo Costa Novo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Membro do Grupo de Pesquisa Gênero, Corpo e Sexualidade (GCS/UFRN)
Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Antropologia e Saúde (NAntS/FACISA/UFRN)
Sócio efetivo da Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

Referências

AGUIÃO, S. Fazer-se no “Estado”: uma etnografia sobre o processo de constituição dos “LGBT” como sujeitos de direitos no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2018.

ALEXANDRE, J. R. Emoções, documentos e subjetivação na construção de transexualidades em João Pessoa/PB. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)—Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015.

AMORIM, A. C. H. Nós já somos uma família, só faltam os filhos: maternidade lésbica e novas tecnologias reprodutivas no Brasil. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)—Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Natal: EDUFRN, 2014a.

BENTO, B. Nome social para pessoas trans: cidadania precária e gambiarra legal. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 4, n. 1, p. 165–182, jun. 2014b.

BESTARD, J. Parentesco y modernidad. Barcelona: Paidós, 1998.

BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M. DE M.; AMADO, J. (Eds.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1998. p. 183–191.

BOURDIEU, P. A Distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: EDUSP, 2007.

BUTLER, J. A vida psíquica do poder: teorias da sujeição. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

CARDOZO, F. Performatividades de gênero, performatividades de parentesco: notas de um estudo com travestis e suas famílias na cidade de Florianópolis/SC. In: GROSSI, M. P.; UZIEL, A. P.; MELLO, L. (Eds.). Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Rio de Janeiro: Garamond, [s.d.]. p. 233–253.

CARSTEN, J. Cultures of relatedness: new approaches to the study of kinship. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

CARSTEN, J. A matéria do parentesco. Revista de Antropologia da UFSCar, v. 6, n. 2, p. 103–118, dez. 2014.

CHAZAN, L. K. “Meio quilo de gente”: um estudo antropológico sobre ultrassom obstétrico. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.

CONNEL, R. Gênero em termos reais. São Paulo: Inversos, 2016.

CORREA, C. M. DE A. O nome, os/as trans e os parentes. In: GROSSI, MIRIAM PILLAR, M. P.; OLTRAMARI, L. C.; FERREIRA, V. K. (Eds.). Família, gênero e memória: diálogos interdisciplinares entre França e Brasil. Brasília: ABA, 2021. p. 133–156.

COSTA NOVO, A. L. Famílias em transição: Uma etnografia sobre relacionalidade, gênero e identidade nas vidas trans. Tese (Doutorado em Antropologia Social)—Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2021.

DAMATTA, R. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

FONSECA, C. Amor e família: vacas sagradas da nossa época. In: RIBEIRO, I.; RIBEIRO, A. C. (Eds.). Família em processos contemporâneos: inovações culturais na sociedade brasileira. São Paulo: Loyola, 1995. p. 69–90.

FONSECA, C. Apresentação - de família, reprodução e parentesco: algumas considerações. Cadernos Pagu, v. 29, p. 9–35, 2007.

FONSECA, C. O anonimato e o texto antropológico: dilemas éticos e políticos da etnografia “em casa”. Teoria e Cultura, v. 2, n. 1 e 2, p. 39–53, 2008.

FREIRE, L. A máquina da cidadania: uma etnografia sobre a requalificação civil de pessoas transexuais. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)—Rio de Janeiro: Museu Nacional, 2015.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de janeiro: LTC, 2008.

GOFFMAN, E. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 2017.

GUERRA, V. A. Mulheres de bens: família, trânsitos e afetos nas negociações morais do retorno à Paraíba. Tese (Doutorado em Antropologia)—Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2019.

LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, 2012.

MARCUS, G. E. Ethnography in/of the World System: The Emergence of Multi-Sited Ethnography. Annual Review of Anthropology, v. 24, p. 95–117, out. 1995.

MAUSS, M. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de “eu”. In: MAUSS, M. (Ed.). Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. p. 367–397.

OLIVEIRA, A. Somos quem podemos ser: os homens trans brasileiros e o discurso pela despatologização da transexualidade. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)—Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015.

OLIVEIRA, L. DE. Os sentidos da aceitação: família e orientação sexual no Brasil contemporâneo. Tese (Doutorado em Antropologia Social)—Rio de Janeiro: Museu Nacional, 2013.

OLIVEIRA, L. D. A “vergonha” como uma “ofensa”: homossexualidade feminina, família e micropolíticas da emoção. Horizontes Antropológicos, v. 25, n. 54, p. 141–171, ago. 2019.

PEIRANO, M. A teoria vivida e outros ensaios de antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

PELÚCIO, L. O gênero na carne: sexualidade, corporalidade e pessoa. In: GROSSI, M. P.; SCHWADE, E. (Eds.). Política e cotidiano. Estudos antropológicos sobre gênero, família e sexualidade. Blumenau: ABA/Nova Letra, 2006. p. 119–216.

PINA CABRAL, J. Mães, pais e nomes no baixo sul (Bahia, Brasil). In: PINA CABRAL, J.; VIEGAS, S. M. (Eds.). Nomes: gênero, etnicidade e família. Coimbra: Almedina, 2007. p. 63–88.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. On Joking Relationships. Africa, v. 13, n. 3, p. 195–210, 1 jan. 1940.

REZENDE, C. B. Nomes que (des)conectam: gravidez e parentesco no Rio de Janeiro. Mana, v. 21, n. 3, p. 587–607, dez. 2015.

RUBIN, G. The Traffic in Women: Notes on the “Political Economy” of Sex. Em: RUBIN, G. (Ed.). Deviations. A Gayle Rubin Reader. Durham: Duke University Press, 2011. p. 33–65.

SCHNEIDER, D. M. What is Kinship All About? In: Kinship and Family: An Anthropological Reader. Malden: Blackwell, 2004. p. 257–274.

SCHNEIDER, D. M. Parentesco Americano: uma exposição cultural. Petrópolis: Vozes, 2016.

SCHWADE, E. Poder do “sujeito”, poder do “objeto”: relato de uma experiência de pesquisa em um assentamento de trabalhadores rurais. In: Trabalho de campo, ética e subjetividade. 1. ed. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2018. p. 29–39.

TARNOVSKI, F. L. “Pais assumidos”: adoção e paternidade homossexual no Brasil contemporâneo. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)—Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2002.

VELHO, G. O estudo do comportamento desviante: a contribuição da Antropologia Social. In: VELHO, G. (Ed.). Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. p. 13–34.

VIEIRA DO RÊGO, F. C. Viver e esperar viver: corpo e identidade na transição de gênero de homens trans. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)—Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015.

VIEIRA DO RÊGO, F. C. A segurança biológica na transição de gênero: uma etnografia das políticas da vida no campo social da saúde trans. Tese (Doutorado em Antropologia Social)—Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020.

VOM BRUCK, G.; BODENHORN, B. Entangled in Histories: An Introduction to the Anthropology of Names and Naming. In: VOM BRUCK, G.; BODENHORN, B. (Eds.). The Anthropology of Names and Naming. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. p. 1–30.

WESTON, K. Families we choose: lesbians, gays, kinship. New York: Columbia University Press, 1991.

ZAMPIROLI, O. Amores subterrâneos: Família e Conjugalidades em Trajetórias de Prostitutas Trans-Travestis. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)—Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

Downloads

Publicado

2025-06-28

Como Citar

Costa Novo, A. L. (2025). "O nome que eu sou": Pessoa, gênero, relacionalidade e os sentidos da nominação de sujeitos trans. Cadernos De Gênero E Diversidade, 11(2), 524–549. Recuperado de https://revbaianaenferm.ufba.br/index.php/cadgendiv/article/view/66447

Edição

Seção

Seção Temática