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  • Reflexões feministas sobre o julgamento de Bolsonaro

    2025-09-15

    O mundo voltou-se para Brasília em setembro, acompanhando o eletrizante julgamento no Supremo Tribunal Federal de uma tentativa de golpe de Estado,  no mês em que o Brasil celebra sua soberania, liberdade e os avanços democráticos.

     O julgamento do ex- presidente Bolsonaro e vários generais foi um marco jurídico na história do Brasil.

    Como feministas, compreendemos este julgamento, transmitido ao vivo, como uma vitrine de como poder e masculinidade se entrelaçam na política brasileira. Tanto a trajetória política de Jair Bolsonaro, marcada por discursos eivados de violências machistas, homofóbicos, misóginos, racistas e capacitistas, quanto a própria tentativa de golpe de Estado, liderada por homens brancos e não tão jovens, é reveladora do projeto político misógino e conservador da extrema política brasileira e mundial. 

    Também  o júri composto por quatro homens e apenas uma mulher, que deixou clara em sua resposta à demanda de aparte por um dos colegas, que precisava falar para “recuperar os dois mil anos em que as mulheres estiveram caladas”. Sua própria presença - hoje, a única mulher no STF - revela a dificuldade do acesso das mulheres aos espaços de poder. 

    A presença marcante, o estilo de fala e o voto decisivo pela condenação de Jair Bolsonaro como “chefe da quadrilha golpista” da ministra Cármen Lúcia foram celebrados intensamente nas redes feministas. Ao iniciar seu voto, ela citou o poema "Que país é este?”, de Affonso Romano de Sant’Anna (1937–2025), apontando para os paradoxos que o julgamento revelou sobre a política brasileira:

    “Uma coisa é um país, outra um fingimento. Uma coisa é um país, outra um monumento. Uma coisa é um país, outra o aviltamento… Esse é o país do descontínuo, onde nada congemina.”

    Justiça, gênero e quebra de protocolos

    A dinâmica do julgamento, desloca a análise para além de seu aspecto jurídico estrito e nos convida a uma reflexão feminista sobre o funcionamento do sistema judiciário no que tange ao lugar e aos julgamentos envolvendo as mulheres e grupos subalternizados no Brasil. Questões fundamentais emergem: como as instâncias judiciais têm validado ou tolerado discursos preconceituosos sem resposta institucional imediata? Em que condições é possível romper protocolos para enfrentar violências simbólicas no espaço público?

    O papel das instituições democráticas — partidos, movimentos sociais e sociedade civil organizada — torna-se ainda mais relevante nesse contexto. São elas que devem sustentar a agenda de enfrentamento a práticas de opressão, sejam elas simbólicas ou estruturais, como têm feito movimentos feministas, coletivos de mulheres e organizações de direitos humanos.

    Democracia como condição de pluralidade

    Ao proferir seu voto, Cármen Lúcia ultrapassou o legalismo técnico para reconhecer dimensões simbólicas, sociais e políticas do julgamento. Sua fala defendeu uma cultura democrática que não naturaliza o insulto nem admite a instrumentalização do discurso discriminatório como prática política.

    Por alguns instantes, vozes hostis e excludentes foram silenciadas. E ficou evidente que tais discursos constituem parte estruturante das relações de poder. O julgamento, portanto, não apenas produziu efeitos jurídicos, mas também abriu espaço para um novo registro discursivo no interior da arena pública.

    Precedentes para o futuro democrático

    A decisão de setembro de 2025 estabelece precedentes legais relevantes, ao valorizar a responsabilização por discursos dirigidos contra grupos vulnerabilizados. O marco jurídico representado por esse julgamento redefine limites para a democracia brasileira, ao reconhecer que sua preservação inclui necessariamente a proteção das vidas e existências que dela mais dependem.

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  • Reabertura para Submissão de Artigos

    2025-08-27

    Em nome da Equipe Editorial dos Cadernos de Gênero e Diversidade , temos a satisfação de anunciar a reabertura de submissão de artigos, que estava fechada desde março de 2024, devido a uma transição editorial com foco na avaliação e processamento editorial de um imenso volume de artigos submetidos. Tendo atendido este objetivo, com a volta à regularidade trimestral de publicação dos Cadernos, a partir de 1º de setembro de 2025, retomaremos o fluxo contínuo de recebimento de novos artigos e nos comprometemos a voltar a publicar os Cadernos 4 vezes por ano.

    Criados em 2014, ao longo de onze anos de existência, os Cadernos de Gênero e Diversidade consolidaram-se como referência no campo dos Estudos de Gênero e Sexualidade no Brasil. Mantendo a UFBA como sua âncora editorial, os Cadernos são editados pela REDE NIGS, que tem ramificações em todo o Brasil e no exterior, desde 2024.

    Continuaremos a publicação de produções acadêmicas nos formatos já existentes: Artigo, Entrevista, Tradução, Ensaio, Diário de Campo e Resenha. 

    Todavia, nesta nova fase editorial, publicaremos apenas artigos que tragam significativa contribuição teórica baseada em dados de pesquisas empíricas originais para os campos de estudos de gênero, sexualidades e diversidades.

    Além da seção geral de Artigos, buscamos organizar em cada edição  Seções Temáticas que reúnem em torno de um grande tema do campo dos estudos de gênero e diversidade, artigos submetidos em fluxo contínuo. Também acolhemos Dossiês organizados por editoras colaboradoras dos Cadernos, cujo objetivo é problematizar questões emergentes de nosso campo de estudos. As Entrevistas têm como objetivo reconhecer a contribuição intelectual e as trajetórias de pesquisadoras de referência no campo de estudos feministas no Brasil e as Traduções nos permitem o acesso ao pensamento de autoras e autores que têm produzido, em particular, no sul global. As Resenhas de livros recentemente publicados nos estimulam a conhecer a pungente produção intelectual contemporânea de nosso campo. 

    Lembramos que os Cadernos nasceram, por iniciativa de Felipe Bruno Martins Fernandes, que desejava incentivar estudantes de graduação do NEIM UFBA a divulgarem suas pesquisas de iniciação científica. Todavia, pelas exigências do campo editorial acadêmico brasileiro, nossa publicação passou a privilegiar contribuições de pesquisadoras da pós-graduação, em particular as de estudantes produzidas em parceria com a orientação. É para voltar a contemplar esta faixa inicial da formação no campo dos estudos de gênero, sexualidades e diversidade, e um público mais amplo de autoras/leitoras e autores/leitores que, a partir de 2026, teremos uma nova seção intitulada Iniciação Científica

    Além desta, a partir do volume 12, teremos também uma nova seção intitulada Escritas Criativas que acolherá uma gama mais variada de textos, como relatos de experiências didáticas, etnografias visuais, ensaios artísticos, verbetes, etc. sempre em sintonia com o foco teórico e temático dos Cadernos de Gênero e Diversidade.

    Ao assumir a coordenação editorial, a Rede NIGS, que reúne pesquisadoras egressas do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem atuado com o compromisso ético de avaliar com seriedade e de contribuir para a melhoria da pesquisa no campo de gênero, sexualidades e diversidades com pareceres densos e colaborativos visando dar visibilidade e reconhecimento ao campo de estudos feministas e queer no Brasil. A lista de pareceristas é publicada anualmente no último número de cada volume. Além de uma pequena equipe que atua, voluntariamente, na edição dos Cadernos, cada número conta com artistas que nos oferecem suas artes para as capas e com editoras e editores convidados.

    É com alegria que convidamos a comunidade acadêmica a enviar suas contribuições e a participar desta nova etapa de publicação.

    Acesse o link para submissão: https://periodicos.ufba.br/index.php/cadgendiv/about/submissions

    Miriam Pillar Grossi, Izabela Liz Schlindwein, Juliana Cavilha, Carolina Bergman e Priscilla Gusmão 

    Equipe editorial dos Cadernos de Gênero e Diversidade - agosto de 2025

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  • Gênero e Sexualidade: novas perspectivas e intersecções sobre experiências indisciplinadas

    2023-04-15

    O dossiê temáticoGênero e Sexualidade: novas perspectivas e intersecções sobre experiências indisciplinadas” quer problematizar os modos como os gêneros se fazem e desfazem nas áreas de saber das ciências humanas e sociais, abordando temas como histórias das mulheres e dos homens, das feminilidades, das masculinidades e de dissidências à matriz cis-heteronormativa. O objetivo é discutir as ordens, padrões institucionais e normas de gênero e de sexualidade impostas e burladas por sujeitos que destacam a indisciplina à ordem e padrões vigentes em dada sociedade.  

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  • Baphos Babadeiros de Gênero, Sexualidade e Saúde: Debates Contemporâneos

    2022-01-25

    A presente proposta de dossiê temático tem o intuito de congregar pesquisas (concluídas e/ou em andamento) e reflexões, de caráter teórico ou empírico, em que a articulação entre gênero, sexualidade e saúde se façam presentes. Com esse dossiê desejamos acessar reflexões e problematizações interdisciplinares comprometidas com uma perspectiva crítica, pós-crítica e/ou interseccional sobre saúde na contemporaneidade. O tempo histórico presente se mantém convidativo às reflexões nessa temática e perspectivas. Ele nos apresenta provocações instigantes para novas reflexões e análises em um campo temático histórico na área das Ciências Humanas e Sociais.

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  • Chamada para Dossiê - Aborto legal: interseccionalidades para garantia de um cuidado humanizado

    2019-01-02
    Entendendo como estratégica a reflexão e o debate sobre o aborto legal no Brasil, envolvendo sujeitos de todas regiões, com seus saberes, seus movimentos, suas transformações locais e, quem sabe, nacionais; e acreditando na importância de sempre revisitar este tema sob a perspectiva dos direitos humanos e dos direitos sexuais e reprodutivos, de forma ética, científica, democrática e laica, lançamos este edital com a finalidade de publicar um dossiê composto por artigos ou manuscritos que discutam o tema do Aborto Legal e suas interseccionalidades, buscando a contribuição de pesquisadores e pesquisadoras das diversas áreas, bem como ativistas e lideranças que atuem diretamente nesta temática. Read more about Chamada para Dossiê - Aborto legal: interseccionalidades para garantia de um cuidado humanizado